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14 de março de 2014

Postado por Unknown | Marcadores:
Eu nasci e cresci em uma família humilde. O meu pai trabalhava em uma fábrica que manufaturava peças mecânicas, e não ganhava muito. O seu salário era o suficiente apenas para manter as despesas básicas da casa, sem permitir luxos e outros gastos adicionais. Mas eu não posso reclamar, pois embora eu tenha tido uma infância simples, sem regalias, os meus pais sempre foram carinhosos e amigos, e tudo o que sou hoje devo a eles.
O tempo foi passando, eu e meus irmãos fomos crescendo, e naturalmente cada um tinha um sonho e um projeto de vida. Eu queria muito ser Engenheiro Civil, mas o curso era muito caro e nós não tínhamos recursos nem para pagar o cursinho para o vestibular, o que diria a faculdade então. Nessa época eu trabalhava em um escritório de contabilidade perto de casa e ganhava muito pouco, o salário não dava para nada.
Mas mesmo assim, ralei muito, estudei até de madrugada, e finalmente consegui passar no vestibular para o curso que eu tanto sonhava. Finalmente se tudo corresse bem, seria um Engenheiro Civil e poderia trabalhar na área que eu tanto sonhava.
Só que para fazer o curso, após ter passado no vestibular, eu teria que ter um emprego que ganhasse mais, pois os gastos seriam maiores. Comecei então à procurar uma atividade em que eu poderia trabalhar ganhando pelo menos o suficiente para sustentar os custos básicos da minha nova carreira.
Por semanas eu procurei através de jornais, amigos e agências de emprego, e nada. As vagas que surgiam exigiam experiência e um grau de estudo especializado. Sem contar que naquela época (1983) havia muito desemprego e as vagas oferecidas haviam se reduzido.
Foi então que através de um amigo da minha tia, surgiu uma oferta de emprego um tanto estranha, mas com um salário bem melhor do que eu ganhava no meu tradicional emprego, o que me ajudaria em muito. O que eu não sabia, era que esse emprego mudaria por completo a minha forma de pensar sobre o nosso mundo e ao mesmo tempo deixaria marcas em mim até os dias de hoje.
Vocês devem estar imaginando que emprego seria esse, e com razão. A vaga era de vigia noturno em um hospital abandonado.
Isso mesmo.
Havia em São Paulo um hospital que foi interditado pelo governo, devido ao seu estado precário, má conservação e pela possibilidade de poder ocasionar acidentes às pessoas que ali transitavam. Também existiam comentários de que na época do seu funcionamento ali aconteciam falcatruas desviando a verba destinada à saúde para outros fins (bem, no Brasil isso é normal).
Então em uma determinada data, o hospital foi lacrado com todos os equipamentos existentes, arquivos e demais materiais em seu interior.
Para se evitar invasões e para manter os vândalos afastados, existia a necessidade de se manter vigias no local 24 horas por dia. Os turnos eram divididos em 12 horas. Das 06:00' às 18:00' e das 18:00' às 06:00'. Para quem estivesse no turno da noite, a escala de trabalho era uma noite sim e outra não. Para mim seria ótimo, pois eu poderia estudar de dia. E como era uma noite sim e outra não, daria para dedicar uma grande parte do meu tempo aos estudos.
Pensei bem a respeito, e embora eu tivesse medo desse tipo de coisa (trabalhar de segurança e ainda em um hospital abandonado), eu acabei aceitando, pois o dinheiro e o tempo disponível cairiam muito bem para o que eu estava precisando na época.
Então providenciei toda a documentação, assinei o contrato, e marcaram o dia para eu começar.
Nos primeiros dias fiz um treinamento sobre táticas de segurança, procedimentos em caso de ataques de bandidos, legislação, alguns tópicos sobre direito criminal (nada avançado é claro), e o que mais gostei, defesa pessoal (esse foi muito bom).
Também tive um curso de "tiro" em uma stand própria para isso.
O meu material de trabalho era o uniforme azul com cinza, um cassetete, um revolver 38, um "Cap", um rádio comunicador, coturno e uma jaqueta azul marinho.
Pensei comigo: "Para preparem tanto os vigilantes, é porque o negócio não deve ser tão tranquilo assim".
Após tudo isso agendaram o dia em que eu iria começar no meu local de trabalho. Lembro como se fosse hoje, 4 de Julho de 1983 (uma segunda-feira).
Pois bem, chegou o dia, e lá fui eu para o local de trabalho. Chegando lá, me assustei com o que vi. Um prédio enorme, onde foi o hospital, com mais de 10 andares, um pátio também muito grande, e tudo abandonado, com sujeira em tudo.
O vigia que estava no local me mostrou tudo e onde ficavam as chaves de energia para acionamento da iluminação. Não existia iluminação em tudo porque os circuitos elétricos estavam deteriorados e com problemas.
Conversando com o vigia, achei estranho o que ele comentou.
Ele me disse que estava ali só a poucos dias porque o vigia anterior foi embora misteriosamente. Ele comentou que esse vigia ficava a noite, e que um dia de manhã quando o outro chegou para rendê-lo, ele não estava em seu posto de trabalho e nem em nenhum outro local. Ele nem apareceu para pedir a conta e receber o seu pagamento. Simplesmente tinha sumido.
Tinham até aberto um B.O. na policia sobre o caso. Ele também disse que coisas estranhas aconteciam no local. Comentou que ele ficava na casa de vigia, a qual fica bem no meio do pátio, e com isso podia ver o prédio todo por fora, e que a noite, principalmente depois das 22:00' ele ouvia barulhos no prédio e via luzes acenderem e apagarem.
Perguntei então a ele se não havia ido verificar o que era, e ele disse que não. Ele comentou:
- Eu só estou quebrando o galho aqui. O outro vigia já sumiu e ninguém sabe o que aconteceu com ele. Dizem que ele abandonou o emprego e voltou para o norte, de onde ele veio. Dizem que ele nem recebeu o pagamento. Eu é que não vou me arriscar a toa, vai saber o que tem a mais nesse lugar. Boa sorte para você. 
E depois pegou suas coisas e foi embora.
E foi assim que começou o meu primeiro dia de trabalho, com uma história de arrepiar. Depois daquilo, já fiquei com os cabelos em pé. E já estava anoitecendo.
Após me instalar na casa de vigia, que era uma sala no meio do pátio do hospital, com 4 janelas, uma em cada parede e uma porta de ferro. Dentro tinha uma mesa com telefone, e acessórios de escritório, como canetas, blocos de papel, grampeador, etc...
Era bem confortável. Tinha sofá e até uma TV. Em certos pontos do prédio do hospital foram instalados relógios de ponto, onde eu deveria registrar minha passagem nos horários pré-determinados. Então eu tinha os horários de ronda para fazer durante a noite e a madrugada. Lá da sala da segurança eu podia ver o prédio todo e o pátio também.
Chegando as 19:00' eu comecei a fazer minha primeira ronda. Entrei então no prédio do hospital, e fui passando pelo corredor central. Vocês nem podem imaginar a sensação horrível de entrar sozinho em um local desses. Tudo meio escuro, pois só algumas lâmpadas funcionavam, salas fechadas com aquelas janelas de vidro nas portas, passando por escadas e mais corredores diversos.
Então fui subindo, pelas escadas é claro, pois os elevadores não funcionavam. Acredito que por estarem danificados pelo tempo.
Eu passava pelos andares e corredores, registrando nos relógios de ponto posicionados estrategicamente, a minha passagem.
A pior parte era o subsolo. Lá haviam mais salas e corredores e um local de estacionamento, o qual era totalmente escuro.
E o pior. Lá embaixo tinha uma sala com uma plaquetinha na porta dizendo: "Necrotério". Sim, era lá que deixavam os corpos daqueles que haviam falecido no hospital quando o mesmo estava em funcionamento.
Eu passava rapidinho nessa ala do prédio e subia que nem um raio.
Eu achava um absurdo deixarem alguém sozinho fazendo a segurança de um local como esse. Era fácil alguém se esconder por ali e pegar de surpresa quem estivesse passando, que no caso era eu. Bem, fiz minha primeira ronda e voltei para a sala de segurança, trancando obviamente a porta de ferro por dentro. De vez em quando eu olhava pelas janelas para ver se havia algo de anormal em algum local do prédio, mas nada, tudo normal.
Mais tarde às 21:00' fui fazer a próxima ronda. Durante essa ronda ouvi um barulho nos andares superiores, parecendo mais que foi no 5º andar. Fui dar uma olhada, já com a lanterna na mão e com a mão no revolver. Nem é preciso dizer que eu estava com todos os pelos do corpo arrepiados à esta altura. Mas graças a Deus não vi nada. Tudo estava normal. Pensei que talvez fosse algum rato derrubando algo.
Voltei para a sala de segurança e fiquei por lá.
Fiz minhas rondas posteriores, terminando pela manhã, e além do barulho que ouvi no 5º andar, mais nada de anormal ocorreu.
Tirei minha folga do outro dia.
Na Quarta-Feira estava de volta, pronto para começar outra ronda.
Nessa noite coisas estranhas começaram a acontecer. Primeiro eu estava na sala de segurança lá pelas 22:00', quando vi passar pela janela um "vulto". Corri para ver quem era, mas não vi nada. Com cuidado saí com a arma na mão para examinar o local, mas não havia nada lá. Olhei em volta, e nada. Voltei para a sala de segurança e fiquei com os olhos abertos. Depois, observando pela janela, vi uma luz acender no 5º andar, em uma das salas de lá. Avisei a central pelo rádio e subi para verificar. Quando cheguei lá, não havia nenhuma luz acesa. Examinei o local e desci. Fiquei muito assustado com aquilo.
Quando subi para fazer a ronda das 23:00', e estava entrando no sexto-andar, levei um baita susto. Quando olhei para o fundo do corredor havia uma pessoa parada bem no final olhando para mim. Não dava para ver como era essa pessoa porque ela estava fora da área de iluminação. Eu só via o perfil dela. Então perguntei quem era e mandei que ficasse parada. Saquei a arma e apontei na direção dela, e fui andando. Nisso ela virou e entrou no outro corredor do andar. Eu corri, e quando cheguei lá não a vi mais. Examinei todas as salas do andar e não havia ninguém. E não dava para aquela pessoa ter saído porque a saída era por onde eu tinha chegado. Sem achar nada, continuei com minha ronda, mas com a arma na mão e com muito mais atenção.
Quando estava descendo para voltar à sala de segurança, escutei barulhos nos andares de cima novamente, como se alguém estivesse arrastando cadeiras ou mesas. Voltei para lá, mas não vi nada. Quando me virei para sair do andar, vi um vulto passando de uma sala para a escada de acesso. Corri para lá, mas não havia ninguém novamente.
Neste ponto eu já estava super assustado e também estava quase pedindo reforços, mas pensei que se fizesse isso minha imagem como iniciante iria ficar prejudicada. Então resolvi esperar.
Amanheceu e fui embora para mais um dia de folga.
Na Sexta-Feira voltei para mais um turno, e comecei a trabalhar preocupado devido aos acontecimentos ocorridos no último turno.
Foi anoitecendo e a preocupação foi aumentando.
Havia até pedido para a chefia designar mais alguém para ficar comigo, mas disseram que para este posto de serviço não era necessário. Um só segurança era suficiente. Perguntaram porque, e eu desconversei. Deixei para lá.
Eu já estava altamente preocupado com aquele lugar. O que haveria ali afinal? O que seriam aqueles vultos? E aquela pessoa que virou no corredor e desapareceu? Estava muito assustado. Só de chegar lá o meu coração já acelerava naturalmente.
Bem, cheguei, e comecei à ficar atento para ver se algo estranho aconteceria. Comecei minhas rondas, e quando chegou na ronda da 01'00' da madrugada eu tinha que descer para o famigerado sub-solo, onde ficava o antigo necrotério do hospital.
Eu nem preciso dizer que nesse momento eu estava quase tendo um enfarto de tanto medo, mas tinha que ir para registrar minha passagem por lá.
Desci as escadas com a lanterna acesa e já com o revolver na mão, como se eu estivesse esperando algo por lá. Passei por algumas salas, sendo que o relógio de ponto ficava no final do corredor, após o necrotério e na saída para o estacionamento, o qual era uma penumbra só. Eu ficava pensado comigo mesmo: "Onde fui me meter?...será que vale a pena tudo isso?...Acho que vou desistir, e coisas assim...".
Bem, fui passando pelo corredor, e quando fui passar pela porta do antigo necrotério, que era uma sala apenas, com algumas mesas e móveis no canto, eu escutei algo. Nessa sala tinha aquelas portas com janelinhas de vidro, que dá para ver dentro. Então eu fui dar uma olhada, de fora mesmo, pois qualquer coisa eu cairia fora dali.
Então quando eu olhei pela janelinha de vidro, colocando minha lanterna na frente, pois a sala estava sem iluminação, eu não acreditei no que eu vi. Em uma das mesas lá dentro tinha uma pessoa deitada com um tipo de camisola branca, como um corpo que ficava no necrotério. esticada e dura. Eu pensei então. Acho que estou vendo coisas. Não é possível isso.
Nisso eu reuni toda a minha restante coragem (se é que tinha alguma) (meu coração acho que batia à umas duzentas batidas por minuto, parecia que estava na garganta até), e chutei a porta com tudo, apontando a lanterna e a arma na direção de dentro. Nisso, claro que ninguém vai acreditar, mas eu vi......aquele corpo começou a se mexer e a se levantar. Nunca imaginaria que viria nada igual. Era como algo em decomposição, com uma cor esverdeada, tinha olhos vermelhos, parecendo acesos, com poucos cabelos e uma unhas enormes.
Aquilo começou a levantar e virou para mim. Eu, com a arma na mão nem consegui disparar. Eu gritei, virei para trás, e saí correndo como nunca corri em toda a minha vida. Nisso eu escutei a porta abrindo novamente atrás de mim, e eu nem consegui olhar. Subi as escadas de dois em dois degraus, e fui para a sala da segurança, onde tranquei a porta.
Nisso eu tremia como uma vara verde. Então passei um rádio para a central dizendo que eu estava passando mal. Bebi acho que 1 litro de água e deitei no sofá. Depois de uns minutos comecei a sentir dores no peito. Não sabia o que era. Depois de uns 40 minutos chegou um carro da central com alguns outros seguranças, os quais me vendo daquele jeito, me levaram para um hospital, onde viram que minha pressão estava altíssima e eu estava quase tendo um infarto.
Perguntaram o que havia acontecido, e eu titubeei um pouco em contar, mas contei para os colegas o que tinha acontecido. Estranhamente eles se olharam e ficaram perplexos. E eu perguntei se eles acreditaram e mim. Então eles disseram que coisas estranhas aconteciam naquele lugar, mas não esticaram o assunto.
Passei o resto da noite no hospital, sendo liberado pela manhã. Naquele dia que era meu dia de folga, eu fui até a chefia na empresa, e quando cheguei lá, misteriosamente já haviam alguns documentos me transferindo de local de trabalho para um outro, em uma empresa.
Perguntei porque, e eles disseram assim: "A chefia acha que será melhor para você assim, afinal ninguém fica muito tempo neste posto de trabalho mesmo".
Bem, eu dei graças a Deus por isso. Fiquei um ano trabalhando de vigia nesse novo local de trabalho e depois consegui um emprego bem melhor em uma fábrica de equipamentos eletrônicos, onde fiquei até me formar.
Só tenho pena do segurança que ficou no meu lugar. Será que ele conseguiu ficar mais tempo do que eu ou os outros antecessores?

Alexandre Vieira

3 comentários:

  1. muito bom mesmo faz tempo que eu nao via esses contos,adoro esses tipos de contos ,posta mais.

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    1. Fico muito feliz em saber que você gostou! Postarei mais sim, com certeza - tenha muitos outros aqui no pc. Tratam-se de umas Creepypastas bem velhas que li em 2005 e por algum milagre salvei, e achei esses dias.
      É realmente muito bom saber a opinião de quem lê o blog, de verdade. Obrigado.

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  2. primeiro dia no blog e já virei fã, valeu.

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Escreva, monstrinho.