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3 de agosto de 2015

Postado por Unknown | Marcadores: ,
Matéria extraída do site Homo Literatus.
Fiquei curioso ao tomar conhecimento de um escritor que tem também a profissão de coveiro. Mais interessante ainda foi ele declarar que o ambiente do seu trabalho o inspira. Seu nome é Francisco Pinto de Campos Neto, o Tico, também conhecido como “Bukowski do Campo Limpo”. Bukowski dizia que não há nada a lamentar sobre a morte e sim sobre a vida que não se viveu ou sobre o tipo de vida que se viveu. Parece que ele estava certo, perdemos tempo demais buscando uma maneira de não desaparecer.

Quando a mãe de Francisco morreu em 2010 ele foi parar na rua e nas drogas; então viu um anúncio para ser Sepultador no Cemitério da Consolação. Conseguiu 10 reais para a inscrição, se preparou e passou. Lançou seu primeiro livro em 2006, uma coletânea de contos chamada Elas, etc., bancada por um amigo, que ninguém leu. Enquanto aguardava o resultado do concurso, através de um outro amigo conseguiu que uma agência de fomento à cultura publicasse 500 cópias do seu segundo livro, As Núpcias do Escorpião. Agora está indo para o terceiro livro. Francisco diz que não escreve no seu local de trabalho, mas enquanto caminha pelo lugar, tem ideias.

Lembrei que, em um cemitério, o que me chama a atenção não são os epitáfios, mas os nomes e as datas de nascimento e morte gravados nas placas. Nossa vida se encontra nesse breve lapso de tempo, nesse intervalo onde se forja a história desconhecida de cada um, daquilo que nos torna únicos. E me causa pesar aqueles interlúdios tão curtos entre o início e o fim, onde a vida abruptamente se interrompeu.


Francisco diz que tem muita coisa guardada desde os 14 anos; em 1980 chegou a passar em Letras na USP, mas não chegou a terminar o curso. Gosta de dizer que escreve, para citar Dostoievski, sobre os humilhados e os ofendidos, os miseráveis de modo geral, mas não fala só de grana: os miseráveis de criatividade, de afetividade, de tudo. Eis a miséria que não discrimina. Ele fala muito também sobre loucura, pois esteve 20 vezes internado por causa de drogas e diz ter ficado tanto em clínicas de classe média quanto em lugares horríveis onde tratam o interno como um animal, e quer mostrar o que viveu. Há mesmo “normalidades” assustadoras.

Francisco considera a profissão de coveiro como qualquer outra, e tem razão. Mas na cultura ocidental tudo que diz respeito à morte é cercado de um certo tabu. Nossa cultura aceita menos a morte do que a cultura oriental, onde a morte é encarada com mais naturalidade, como parte do mesmo ciclo da Vida. Lá até as crianças participam das cerimônias fúnebres, aqui aprendemos desde criança que a morte traz imenso sofrimento e até evitam contá-la para nós. Não falar sobre o que nos causa temor ou que não sabemos como lidar é uma maneira de fazer de conta que não acontece.

Em nossa sociedade contemporânea, onde a beleza, a juventude e a felicidade permanentes nunca foram tão cultuados, tudo que diz respeito ao fim como velhice, decrepitude e morte devem ser evitados. O fim deve ser cada vez mais asséptico, distante, impessoal. Por isso não me causou surpresa quando descobri a existência de velório virtual. Já podemos nos despedir de amigos e parentes sem a nossa presença, independente da distância. Como acontece com toda encenação social, os eventos que cercam a morte não deixam de ter seu caráter tragicômico.

Hoje, Francisco diz viver em um quartinho numa pensão, um lugar pequeno mas dele, e é lá que escreve. Se for possível tirar alguma conclusão sobre a morte, é que o fato de termos consciência do nosso fim é uma razão das mais fortes para apreciar a Vida.

“A cólica recrudesceu. Sentiu saudades da mãe. Pensou que não resistiria. Um casal passou por ele sobraçando sacolas de presente. Recordou-se da bola de capotão que havia ganhado num longíncuo Natal – presente do padrasto, pai de cinco dos seus irmãozinhos. Quantos gols, quantos dribles, no campinho da vila!”

Trecho extraído do conto “Jardim das Rosas – Estação da Luz (ou Largo Coração de Jesus)” do livro As Núpcias do Escorpião




Estou loucamente procurando por qualquer um dos livros dele para comprar. Se alguém souber de algo, imploro que deixe um comentário aqui no post ou me contate por Facebook.

19 de novembro de 2014

Postado por Unknown | Marcadores: , ,
A história da humanidade traz muitos casos bizarros, assustadores e ao mesmo tempo tristes de pessoas que nasceram com os mais inusitados tipos de deformidades.
Era muito comum essa gente mal-fadada acabar padecendo em circos de Freak Show. Tornavam-se atrações de cunho sensacionalista vistas por um público sádico que parecia ignorar o fato de que um ser humano com qualquer deficiência continua sendo um ser humano, com sentimentos, anseios, medos e desejos, tal como todos nós.
Dentre essas pessoas que nasceram com tamanho azar, uma história chama atenção tanto pela raridade do fenômeno quanto por seu triste desabrochar. Falo de Edward Mordake, o homem com a cabeça demoníaca.

Edward nasceu com uma rara e estranha deformidade em seu crânio, o qual possuía na parte de trás um segundo rosto completo, com olhos, nariz e boca!
A verdadeira história dele foi perdida no decorrer do tempo, sendo a voracidade de sua existência sustentada apenas por uma única foto, relatos orais e escritos e documentos médicos.
Seu caso poderia parecer apenas o de mais um gêmeo parasita acoplado em seu crânio, mas para muitas pessoas e para ele mesmo, o que existia ali era algo muito mais sombrio...

Edward era herdeiro de um importante título de nobreza na Inglaterra ao qual nunca reclamou. Tirando sua face na nuca, podia ser considerado um homem belo, e era um músico talentosíssimo e brilhante fidalgo.
Tinha tudo para ter uma vida feliz, mas em sua nuca prostrava-se a tristeza de sua vida.
Na face flácida e desfigurada em sua nuca existia algo mórbido e assustador, algo que deixava atordoado todos que a observavam, algo que o próprio Edward classificava como sendo “demoníaco”... O rosto era algo absurdamente perturbador que podia grotescamente rir e chorar.

Claro que Edward sofria muito com isso, e em seu confinamento e solidão, afirmava ser impossível conviver com aquele “demônio”. Ele implorou a todos os médicos que conheceu a retirada da segunda face, mas seu pedido nunca foi atendido pois a cirurgia o levaria à morte.

Alguns relatos sobre o demônio da nuca de Edward Mordrake são impressionantes, em especiais os dele próprio. Ele afirmava que sua segunda face era o próprio demônio; quando Edward estava triste, a face sorria e algumas vezes até gargalhava.
À noite, rotineiramente o homem era acordado por sussurros feitos pela face deformada. Eram palavrões e um choro enlouquecedor que tinham como objetivo afetar o pobre fidalgo.

O final da história foi trágico; Edward se matou aos 23 anos de idade.
Alguns afirmam que ele envenenou-se, já outros relatos afirmam que ele disparou um tiro bem entre os olhos da “face demoníaca”.
Seja como for, em sua carta de despedida deixou bem claro:

“Peço que retirem esse demônio de meu corpo antes que me eternizem em terra, pois pretendo e solicito dormir a eternidade sem os lamentos do inferno”.

Seu pedido foi atendido pelos médicos Manvers e Treadwell, que cuidavam do caso.
Edward Mordake foi enterrado em uma cova de terra barata e sem qualquer tipo de lápide ou escultura, conforme seu desejo final.
Pelo menos o homem descansou em paz, livre da possibilidade de ser importunado pelo monstro que tão frequentemente o acordava à noite...


2 de junho de 2014

Postado por Unknown | Marcadores: , , ,
O primeiro autor tratado na nossa série de posts quinzenais que aborda personalidades do mundo sombrio foi o extremamente popular e conceituado Edgar Allan Poe. Hoje falaremos de um homem que infelizmente poucos conhecem, mas que tem obras valiosíssimas cujas quais todos que se dizem amantes da literatura devem ler - especialmente quem tem inclinação para o macabro. Maupassant não era especificamente um escritor do gênero extraordinário (extraordinário cotidiano talvez), mas seus textos em grande parte carregam sordidez o suficiente para assim serem classificados. Infelizmente o post de hoje será mais curto em relação ao primeiro por não haver tanta coisa que eu saiba a respeito de Maupassant e tampouco fontes que informem fatos inebriantes a respeito de sua pessoa - tal como a misteriosa morte de Poe ou o mistério das três rosas (ambos tratados aqui).
Enfim, embora pouco eu saiba da figura, Maupassant é um dos meus escritores favoritos; conheço bem sua obra e só digo uma coisa a respeito dela: leiam.


Guy de Maupassant

Henri René Albert Guy de Maupassant, ou simplesmente Guy de Maupassant (5 de Agosto, 1850, Fécamp - morto em 6 de Julho, 1893 Tourville-sur-Arques) foi um escritor e poeta francês com predileção para situações psicológicas e de crítica social com técnica realista. Foi amigo do célebre escritor francês Gustave Flaubert, a quem se referia como "mestre". Um dos maiores contistas de todos os tempos, teve uma infância e uma juventude aparentemente felizes no campo francês, em companhia da mãe, uma mulher culta, depressiva, que fora abandonada por um marido infiel. Na década de 1870, ele dirigiu-se a Paris, onde se notabilizou como contista e travou relações com os grandes escritores realistas e naturalistas da época: Zola, Flaubert e o russo Turgueniev.
Entre 1875 e 1885, produziu a maior parte de seus romances e contos. Escreveu pelo menos 300 histórias curtas, das quais algumas se tornaram universalmente conhecidas, como Bola de sebo, O colar, Uma aventura parisiense, Mademoiselle Fifi, Miss Harriett, entre outras. De forma muito rápida, conquistou o coração do público francês e o de outros países. Talvez tenha sido, nos últimos anos do século XIX, o escritor mais lido no mundo.
Com uma aversão natural à sociedade, ele amava a aposentadoria, solidão e meditação. Esta vida não o impediu de fazer amigos entre as celebridades literárias de sua época, embora: Alexandre Dumas tinha um carinho paternal por ele; em Aix-les-Bains ele conheceu Hippolyte Taine e tornou-se dedicado ao filósofo e historiador. Ele viajou extensivamente à Argélia, Itália, Inglaterra, Bretanha, Sicília, Auvergne (...) e de cada viagem trouxe de volta um novo volume. Seu editor, Havard, encarregou-o de escrever mais histórias, e mesmo sob pressão Maupassant continuou a produzi-las de forma eficiente.
A riqueza e a fama bateram à sua porta, e ele teve uma profusão de casos amorosos. No entanto, a partir de 1884 a sífilis manifestou-se em seu organismo, ocasionando-lhe uma doença nervosa feita de angústias inexplicáveis, de estremecimentos e de alucinações. Algumas dessas sensações estranhas e opressivas foram registradas em contos tão célebres quanto assustadores, como O Horla e É ele. Em 1892, após terríveis sofrimentos, tentou o suicídio. Internado num manicômio, veio a morrer no ano seguinte, em estado de semidemência, com apenas 43 anos de idade.


Obra geral

Além de romances e peças de teatro, Maupassant deixou 300 contos, todos obras de grande valor. Merecem destaque, entre os mais famosos, Mademoiselle Fifi eBola de sebo. "A Pensão Tellier" e "O Horla" podem ser considerados seus contos mais significativos.
Há quem julgue Maupassant um artista de superfície, por tentar reproduzir apenas a realidade exterior, sem maior aprofundamento psicológico. Alguns de seus contos, de fato, são crônicas de época; outros, meras anedotas. Contudo, como observou um crítico, “o escritor é profundo na aparente superficialidade porque reconhece o vazio da vida de suas personagens, que buscam o prazer, mas que encontram apenas a destruição fatal”.


Um aspecto que chama atenção na obra de Maupassant é a sua variedade temática. Poucos escritores conseguem dar esta impressão de registro de totalidade da existência, de criação de um universo fecundo, múltiplo e quase inesgotável. Como um pintor impressionista, Maupassant pinta as luzes de Paris: as que reverberam no Sena, as que cintilam nos parques e as que brilham à noite nos boulevards. Luzes que envolvem as personagens nos dramas essenciais da condição humana: a paixão, o prazer, a solidão, o tédio, a morte. É o cronista da vida européia do fim dos Oitocentos, mas também um escritor de dimensão universal.


O terror da loucura

Uma coisa muito interessante em Maupassant é que contos como Le Horla e Qui sait? descrevem fenômenos aparentemente sobrenaturais mas, no entanto, muita gente vem os tratando implicitamente como sintomas das mentes perturbadas dos protagonistas; Maupassant foi fascinado pela disciplina emergente da psiquiatria, e participava assiduamente das palestras públicas de Jean-Martin Charcot entre 1885 e 1886.
Há também uma forte tendência do perturbado e perturbador flanêur evidente em muitas de suas histórias, como no belíssimo La Nuit. O que direi a seguir é uma observação pessoal que fiz e não sei se ela tem quaisquer fundamentos lógicos além de meu delírio e necessidade de identificação com Maupassant, portanto peço que você, leitor, diga em qual aspecto concorda ou discorda do meu ponto.
Antes de mais nada, para quem não sabe, o flâneur é ser que observa o mundo que o cerca de maneira real e descritiva, levando a vida para cada lugar que vê. O flâneur descreve as cidades, as ruas, os becos, o externo. Desvincula-se do particular, recrimina o privado, de forma a ver a rua como lar, refúgio e abrigo. Este sentimento flaneuriano reflete a necessidade de segurança do indivíduo, a necessidade de identificação dele para com a sociedade. A rua é seu lar, seu mundo. Ali nada é estranho ou prejudicial. Na rua se sente confortável e protegido. O flâneur do século XIX representou a angústia da Revolução Industrial.
Creio que o narrador de La Nuit é um flanêur com gosto especificamente para a noite, e heroicamente é tragado por ela no final. Trata-se da narração de uma perambulação noturna por Paris, que vai da exaltação ao pesadelo. Pouco a pouco a cidade se esvazia- luzes e cores, sinais identificadores da
noite, apagam-se. A noite torna-se ausência de vida, escuridão absoluta, um buraco negro, conduzindo
o narrador-herói à afasia e ao apagamento. Inicialmente, na abertura, temos “a narrativa passional da noite”, figura do amor e do desejo de amar, que gradativamente forma um verdadeiro sentimento passional, levando o protagonista à estranha condução do conto. Logo ele está a observar mundos reais ou imaginários? A viagem na verdade é uma aliteração de seu interior? O andarilho está morto ou vivo, afinal?! Chega a ser opressor e claustrofóbico, e é ao nos passar tal sentimento instigante que Maupassant perturba-nos como o genial escritor fantástico que é, sem fazer uso de quaisquer elementos apelativos.
Como disse o amigo Luiz Riesemberg, os contos fantásticos de Guy de Maupassant obviamente não contêm cenas sangrentas de demônios arrancando as vísceras das vítimas e coisas do tipo. Trata-se de literatura de classe, de alta qualidade, que pode até não ter nada de sobrenatural conforme a interpretação do leitor, mas que fará até mesmo o mais cético ficar em dúvida e (por que não?), sentir calafrios pela espinha.


Conheça agora!


Trago ao visitante o endereço dos maravilhosos sites Contos do Covil e Garganta da Serpente, onde você pode ler muito mais não apenas de Maupassant também de outros magníficos autores do extraordinário. Abaixo, dois contos selecionados com muito zelo com o intuito de introduzi-lo à insanidade de Guy:


23 de maio de 2014

Postado por Unknown | Marcadores: , , , ,
Hoje inauguramos uma nova série de posts quinzenais que abordará algumas personalidades do mundo sombrio. A primeira pessoa que trataremos será o celebre Edgar Allan Poe, autor cujo qual todo mundo já ouviu falar, mas acho incrivelmente bizarro o número de pessoas que o têm na lista de "livros a ler" e nada sabem do homem, sequer leram uma obra dele. Ele escrevia poemas e contos e cá entre nós, consegue pensar em algo mais curto e prático de ler do que isso (além de haikais¹)? Pois eis o motivo de eu sugerir que ignore a ordem de vossa lista de "livros a ler" e deguste de pelo menos um maldito conto do Poe agora mesmo, se de fato ele te interessa, pois em curtíssimas obras esse mestre expressa o horror em belas e reflexivas linhas de puro deleite. Não gosta de ler no computador? Pois está lendo agora, meu post, e os contos de Poe não são muito maiores que este post.


Edgar Allan Poe

Edgar Allan Poe (Boston, EUA, 19/01/1809 - Baltimore, 7/10/1849) foi um autor, editor e crítico literário bastante exigente, e o primeiro escritor americano conhecido a tentar se sustentar exclusivamente através da escrita, resultando em uma vida e carreira financeiramente difícil.
Segundo filho de David Poe e Elizabeth Arnold, ambos atores, Edgar Poe ficou órfão ainda criança e foi adotado por um casal rico de Richmond, Virgínia, Jonh Allan e Frances Kelling Allan. Isso lhe permitiu ter uma educação de qualidade, bem como fazer uma longa viagem pela Inglaterra, Escócia e Irlanda com os pais adotivos. Regressou aos Estados Unidos em 1822 e continuou seus estudos sob a orientação dos melhores professores da época. Dois anos depois, entrou para a Universidade de Charlotesville, distinguindo-se tanto pela inteligência quanto pelo temperamento inquieto, que posteriormente o levou a ser expulso da escola.
A seguir houve um período ainda pouco esclarecido na vida de Poe, no qual se registram viagens fora dos Estados Unidos.
Retornou a seu país em 1829 e manifestou desejo de seguir a carreira militar. Foi admitido na célebre Academia de West Point, mas acabou expulso poucos meses depois por indisciplina.
Com a morte da mãe adotiva, John Allan voltou a casar-se, com uma mulher muito jovem que lhe deu dois filhos. Isso impediu que Poe se tornasse herdeiro da fortuna paterna e ele se afastou da casa do pai adotivo, deixando Richmond. Após um período de relativa dificuldade, conheceu uma certa prosperidade ao vencer simultaneamente os concursos de conto e poesia promovidos pela revista Southern Literary Messager. O fundador da publicação, Thomas White, convidou-o a dirigir a revista que rapidamente se impôs ao público. Durante dois anos, Poe esteve a frente do periódico, onde pôde exibir seu talento que se manifestava num estilo novo, no conto e na poesia, bem como pelos artigos de crítica literária que revelavam seu rigor e sensibilidade estética.


Escritor bem-sucedido, Poe casou-se com Virginia Clemm. Entretanto, ao fim de dois anos, White cortou relações com o escritor, que já desenvolvera a doença do alcoolismo. Poe passou a produzir como "free-lancer", em grande quantidade, mas sem ganhar o suficiente para manter uma vida digna e saudável, o que o levou a afundar-se ainda mais na bebida.
A morte de sua mulher por conta da tuberculose agravou o problema. O escritor passou a beber cada vez mais e já sofria os primeiros ataques de delirium tremens (os sintomas incluem tremores, insônia, ansiedade e outros problemas físicos e mentais). Numa viagem a Nova York, para tratar de negócios, parou em Baltimore e hospedou-se numa taberna onde se distraiu durante horas bebendo. Era a noite de 6 de outubro de 1849. O escritor morreu na madrugada do dia 7, aos 40 anos.


Morte misteriosa

Cercada de mistério, sua causa ainda é muito discutida. Quatro dias antes de falecer, Poe foi encontrado nas ruas de Baltimore em um estado delirante. Não existem provas fiáveis sobre seu paradeiro até que, uma semana depois, em 3 de outubro, foi encontrado delirando nas ruas de Baltimore, em frente à Ryan's Tavern. Um impressor chamado Joseph W. Walker enviou uma carta para o Dr. Joseph E. Snodgrass, conhecido de Poe, pedindo ajuda:
Estimado senhor - Há um cavalheiro, muito mal vestido, no 4º distrito de Ryan, que se chama Edgar A. Poe e que aparenta estar muito angustiado e ele que ele é conhecido seu, e eu lhe asseguro, ele está necessitando de assistência imediata. Apressadamente, Jos. W. Walker2

Depois de ler a carta, Snodgrass se apressou em se dirigir à taverna, cruzando a cidade sob uma chuva torrencial. Posteriormente ele declarou que Poe se encontrava "em um estado de intoxicação bestial". Em sua declaração, Snodgrass descreveu o estado de Poe como "repulsivo", relatando que tinha seu cabelo despenteado, gasto, sua cara sem lavar e olhos "vazios e opacos". Sua roupa consistia em uma camisa suja sem terno e sapatos não lustrados, estava gasta, e não eram do seu tamanho. Snodgrass decidiu levá-lo ao hospital da Universidade Washington, onde foi atendido e tratado pelo médico de plantão, o Dr. John Joseph Moran. Moran dá uma descrição detalhada sobre a aparência de Poe naquele dia, que concorda com a dada por Snodgrass: "uma velha e manchada jaqueta, calças em um estado similar, um par de sapatos gastos com as solas gastas, e um velho chapéu de palha". Poe nunca esteve suficientemente coerente para explicar como chegara a se encontrar em situação tão desesperada, e se crê que as roupas que vestia não eram suas, especialmente porque ele não estava acostumado a usar vestimentas gastas.
Ao escritor foram negadas visitas e ele foi confinado em uma habitação similar a uma prisão, com janelas com barras em uma seção do edifício reservada para alcoólatras. Diz-se que, na sua agonia, Poe chamou repetidas vezes um tal "Reynolds" na noite antes de sua morte, mas ninguém foi capaz de identificar a pessoa à qual ele se referia.
As teorias sobre as causas da morte do escritor incluem suicídio, assassinato, cólera, raiva, sífilis e ter sido capturado por agentes eleitorais que o teriam forçado a beber para fazê-lo votar e abandonaram-no, já em estado de embriaguez, à sua sorte.
Suas últimas palavras foram: “Está tudo acabado”.


Funeral e enterro

Poe foi enterrado originalmente, sem lápide alguma, nas proximidades da parte de trás da igreja, perto de seu avô. Neilson Poe, primo de Edgar, havia comprado uma lápide de mármore italiano, mas ela foi destruída antes que chegasse à tumba quando um trem descarrilhou e se chocou contra o depósito onde ela estava guardada. Imagino que o autor teria rido da desgraça da situação, se estivesse vivo e radiante para tal, como em meados de 1836...
O funeral de ocorreu em 8 de outubro de 1849, numa segunda-feira, às quatro horas da tarde. Foi uma cerimônia simples à qual compareceram poucas pessoas, e inteira durou somente três minutos. A tarde era fria e úmida. O reverendo Clemm decidiu que não valia a pena pronunciar um sermão devido ao pouco público. Poe foi enterrado em um esquife barato a que faltavam alças. Tinha uma placa e era forrado com pano, com uma almofada para a sua cabeça.
Em 1873, o poeta do sul Paul Hamilton Hayne visitou a tumba e publicou um artigo descrevendo a sua pobre condição do "túmulo" (sim, botei entre aspas, mesmo!), sugerindo um monumento mais apropriado. Muitas pessoas de Baltimore e de todo os Estados Unidos contribuíram. O custo total do monumento, com o emblema, chegou a pouco mais de 1.500 dólares. O lugar original do enterro foi marcado com uma grande lápide doada por Orin C. Painter, mas originalmente, foi colocada em um lugar incorreto. E penso novamente que Poe teria rido...


O mistério das três rosas: Um fato interessantíssimo é que, por cerca de 60 anos, desde 1949, um desconhecido ia ao seu túmulo nesta data religiosamente todos os anos, deixando ali três rosas e uma garrafa de conhaque parcialmente cheia. Mas nos últimos anos o estranho parece ter desaparecido, e a tradição deve ter se perdido. Será que alguém irá retomá-la no futuro?

Obra geral

Suas histórias são repletas de terror e mistério no qual o sobrenatural e a loucura, misturam-se com a realidade através de delírios, doenças, assassinatos e suicídio. Pessoalmente é isso o que amo nesse grande mestre: a capacidade de mesclar a loucura com o paranormal, muitas vezes colocando uma linha tão tênua entre ambas as áreas que nos faz ponderar o que é ou não real, e ainda mais o que há de extraordinário no ordinário e vice-verso. 
As obras mais conhecidas de Poe são Góticas. Seus temas mais recorrentes lidam com questões da morte, incluindo sinais físicos dela, os efeitos da decomposição, interesses por pessoas enterradas vivas, a reanimação dos mortos e o luto. Muitas das suas obras são geralmente consideradas partes do gênero do romantismo sombrio, uma reação literária ao transcendentalismo.
Além do horror, Poe também escreveu sátiras e contos de humor. Para efeito cômico, abusava da ironia e a extravagância do ridículo, muitas vezes na tentativa de liberar o leitor da conformidade cultural. De fato, "Metzengerstein", a primeira história que Poe publicou (e sua primeira incursão em terror) foi originalmente concebida como uma paródia satirizando o gênero popular.
Sua escrita reflete suas teorias literárias, que ele apresentou em sua crítica: não gostava de didatilismo e alegoria, pois acreditava que os significados na literatura deveriam ser uma subcorrente sob a superfície. Trabalhos com significados óbvios, ele escreveu, deixam de ser arte. Acreditava que o trabalho de qualidade deveria ser breve e concentrar-se em um efeito específico e único. Para isso, acreditava que o escritor deveria calcular cuidadosamente todos sentimentos e ideias.


Influência mundial

Conhecido por suas histórias que envolvem o mistério e o macabro, Poe é considerado por muito o inventor do gênero ficção policial, como podemos claramente perceber ao ler Os assassinatos na Rua Morgue e A carta roubada - especula-se que o herói desses contos, C. Auguste Dupin, foi uma das grandes inspirações do britânico Arthur Conan Doyle ao criar o grande Sherlock Holmes, além de ter influenciado autores como Agatha Christie, G. K. Chesterton, Jorge Luis Borges, e muitosoutros.
Um espírito desequilibrado e uma alma atribulada fizeram Poe levar sempre uma vida de miséria e de desespero, mas senhor, ao mesmo tempo, da maior figura do romantismo americano e o mais universalmente conhecido dos seus escritores. Sua própria vida foi um desses romances vividos que fornecem alta matéria para os romancistas.
Sendo Poe uma importante figura do movimento romântico americano, é de prado encontrarmos na internet fanfics (histórias criadas por fãs baseadas nas já existente) escritas em inglês utilizando-se das obras do autor, pois na sétima ou oitava série (respectivamente 8th e 9th grade) as crianças geralmente têm como trabalho escolar criar obras baseadas em algum escritor nacional romântico. Pessoalmente também mergulhei no universo do terror com o amparo principalmente das obras de Poe, que lia ainda em infância e foi um fator decisivo na minha paixão pela coisa.
Sua obra e vida também foram inspiração para músicos e compositores. O sobrenatural de Poe fascinou compositores eruditos, Debussy compôs uma ópera baseada na Queda da Casa de Usher; Rachmaninoff, utilizou o poema Os Sinos e o transformou em uma sinfonia com coral de mesmo nome; Joseph Holbrooke que era obcecado pelas obras de Poe compôs um poema sinfônico baseado em O Corvo; e tantos outros. Na música popular, Poe também teve e tem uma grande influência. Bob Dylan, Don Dilworth, The Beatles, Lou Reed, Iron Maiden e outros milhares de músicos beberam desse néctar precioso.


A morte de Poe também foi objeto de uma série de obras, tanto fictícias quanto representações de sua biografia. Em 1915 foi lançado o filme The Raven, um cinebiografia retratando os delírios de Poe em seus últimos dias. Em 2002, o romance gráfico The Shadow of Edgar Allan Poe, relata as descobertas de Sterling Tuttle, um fictício entusiasta do autor, ao encontrar um diário que Poe teria escrito em seu leito de morte, detalhando encontros sobrenaturais. A partir daí, Tuttle começa a se questionar se o trabalho do escritor teria sido influenciado por perturbações sobrenaturais ao invés de mentais

Presentinho!

Se você teve coragem de ler este enorme texto e ainda está postergando a leitura de Poe, sugiro que deixe a preguiça de lado e leia ao menos um conto dele, pois convenhamos que meu post ficou maior que muitas obras do mestre! (risos) Na verdade eu pretendia realmente fazer um resumo modesto do Poe, mas obviamente é muito difícil falar de uma figura tão querida em poucas linhas. Poderia escrever uma bíblia sobre ele! Peço perdão pela extensão colossal desta biografia que deveria ser pequena, e como recompensa trago ao visitante o endereço do maravilhoso site Contos do Covil e Garganta da Serpente, onde você pode ler muito mais não apenas do Mr Edgar mas também de outros magníficos autores do extraordinário. Abaixo, dois contos com o intuito de introduzi-lo a este mórbido mundo Poeniano:

 
 
 

Documentário em vídeo

Como bem já disse, este post deveria ser pequeno. Sei que já me demorei o bastante para uma vida inteira, então me limito a deixar aos interessados um bom documentário de no máximo uma hora produzido pelo History Channel, dublado em português. O assisti há uns dois anos e confesso que não o re-vi quando cá o acoplei, mas se bem me lembro ele pode dar uma boa noção da vida e obra de Poe de modo geral.